Os nobres
chineses do
Morumbi
Texto extraído do livro À Paulistana: memórias de comida e imigração na cidade de São Paulo de Rafael Bahia.
Fotos © Gabriel Cabral
Shíshīs são criaturas chinesas que protegem edifícios. Meio cães, um pouco gárgulas aos olhos ocidentais. São, na verdade, leões. De fato, as sílabas repetidas em seu nome transcrevem ao alfabeto latino dois ideogramas de sons parecidos, “pedra” e “leão”, que se diferenciam apenas pela entonação dada. Há séculos habitam a China, no mínimo desde a dinastia Ming, e se espalharam pelo mundo até chegar em uma rua tranquila do Morumbi, zona sul de São Paulo, onde montam guarda nos portões de um palácio: o restaurante Golden Plaza.
A rua Luís Gonzaga de Azevedo Neto termina em uma quadra verde de onde já se avista a Ponte Estaiada no horizonte, acotovelada entre os arranha-céus da Marginal Pinheiros. Comparar o Golden Plaza a um “palácio” não é só adequado, dado o ar de nobreza; mas também um pouco proposital, já que ele acontece de estar a apenas dois quilômetros e meio de um outro, o dos Bandeirantes, de onde o governador do estado despacha. Mas, naquele restaurante, a autoridade é outra. Tem ares míticos – ou talvez seja apenas a névoa subindo de panelões industriais com água fervendo para cozinhar arroz, legumes e macarrão.